segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O Presépio Desorganizado





Ontem à noite, antes de ir dormir, Henrique me pediu para rezarmos em frente ao pequeno presépio de Natal, que tínhamos montado no sábado. O presépio em questão é de resina, de maneira que eu salientei para os dois pequenos, no momento da montagem, que nenhum deles deveria tirar os personagens de seus devidos lugares, para não quebrar.
Na noite de ontem, porém, percebi que minha ordem não tinha sido obedecida, de maneira que me diverti ao observar a maneira que os personagens estavam... Alguns, virados de costas para a manjedoura, outros caídos de lado e um dos reis magos estava totalmente afastado da cena, inclusive fora da toalha em que a cena fora montada.
Enquanto Henrique repetia suas orações, eu me vi distraída, olhando para aquelas peças de resina e pensando na profundidade que aquilo poderia significar... E descobri, naquele momento, que nós éramos aqueles personagens. Sim, a menos de um mês para o Natal, há muitas pessoas viradas de costas para a manjedoura, com a atenção voltada para coisas triviais, como presentes, decorações, luzes... É tudo tão brilhante e maravilhoso, que as pessoas se detêm apenas nisso, esquecendo o foco principal.
Há aquelas pessoas que, como o pobre rei mago fora da toalha, ainda não entraram no espírito do Natal. Estão afastadas, preocupadas em cuidar de seus afazeres corriqueiros, ou então, presas à mexericos e mágoas... Essas pessoas estão excluídas do momento mágico do Advento por sua livre e espontânea vontade. Não estão dispostas a aceitar que, enquanto nosso coração tiver um milímetro de mágoa e ressentimento pelo outro, o menino Jesus não virá habitar.
O Advento é profundo quando paramos para pensar nessas questões. Percebo, de outros anos, que no dia do Natal o meu celular quase trava com tantas mensagens de ‘Boas festas’, ‘Feliz Natal’ e ‘Paz’ que recebo. Tem pessoas que enviam várias mensagens dessas, e eu me pergunto se elas realmente refletiram no conteúdo, antes de encaminhar... Afinal, no dia do Natal, antes de me preocupar com a ceia, os presentes, a luz da árvore, as visitas e outras coisas triviais e irrelevantes como essas, preciso ter certeza de que estou em paz com o mundo e com as pessoas do mundo, do meu mundo. Isso inclui a vizinha fofoqueira, a tia mal-humorada, a prima invejosa...
O ser humano é cheio de falhas e defeitos e nossa paz consiste, na verdade, em saber relevar todos esses encontros e desencontros de opiniões e estilo de vida. Estar em paz não quer dizer abraçar todo mundo e dizer, da boca para fora, que perdoa e ama. Podemos fazer isso, mas precisamos ter a compreensão de que o perdão é mais profundo do que isso... O perdão é você mostrar, através de suas ações, palavras e gestos, que você aceita a limitação daquela pessoa, que em determinado momento do ano chegou a te ferir, mas que é apenas isso: a limitação do ser dela. Como eu tenho as minhas milhares de limitações e o leitor, certamente, descobrirá as suas...  A partir do momento que o ser humano compreender essa dinâmica simples e verdadeira, o Natal poderá verdadeiramente chegar ao nosso coração.
O presépio do nosso coração deve começar a ser organizado dentro de nós desde já. Cada célula do nosso ser deve estar direcionada verdadeiramente para a manjedoura onde o Senhor da vida será colocado, que está chegando com o propósito de nos salvar de toda a nossa fraqueza. Assim, que consigamos ir ao encontro da fraqueza do outro e liberar verdadeiramente o perdão. Talvez o outro não te escute, pois a fraqueza dele é, exatamente, o orgulho. Mesmo assim, o nosso coração precisa estar livre e leve, sem julgamentos, sem ressentimentos...
Eu desejo que esse período do Advento seja maravilhoso na sua vida e esse mergulho espiritual que eu estou lhe propondo seja apenas o primeiro de muitos. Quero ressaltar ainda, que em momento algum em minhas publicações eu tenho o interesse de ofender quem quer que seja, lembrando que o que escrevo aqui é pura e simplesmente construções de desconstruções de uma pessoa completamente falha e imperfeita, que encontra na literatura, um acalento para a sua existência nesse mundo. Compartilho isso, pois não posso mais evitar de fazê-lo e porque acredito que posso melhorar o mundo dando ao mundo o que sinto fazer de melhor...

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