sábado, 19 de novembro de 2016

As estações da vida.


Moro em uma cidade que possui as quatro estações do ano bastante distintas, evidentes para o observador atento. Penso, entretanto, que o mundo atual esteja carente de observadores atentos para as coisas que realmente importam... Mas enfim.
A questão é que temos aqui o esperado calor do verão, o frio do inverno e o clima moderado do outono, com a simbólica queda das folhas das árvores. Hoje, no meio da minha estação favorita, a primavera, eu recebi um pequeno presente da natureza que trouxe a inspiração desse relato.
Eu estava atrasada, tinha horário e compromisso a chegar e saí de casa com aquele passo apertado, característico da geração do século XXI, sempre tão atarefada e atribulada. Porém, ao abrir o portão, meu olhar se dirigiu rapidamente ao modesto jardim do meu quintal, especificamente ao pé de acerola, que fica no centro dele. Aquele pé de acerola fazia parte da minha vida havia cinco anos ou mais e nunca havia dado frutos.
Naquela manhã, porém, meus olhos se depararam com duas esferas avermelhadas: duas lindas acerolas. Eu esqueci completamente a pressa, o compromisso, todo o resto. Minha voz se elevou para o interior da casa, chamando meu filho Henrique para contemplar aquela pequena maravilha da natureza que se dispunha diante dos nossos olhos: a primeira vez que uma árvore produz um fruto.
Henrique veio e seus olhos castanhos esverdeados se encheram de alegria ao contemplar as duas frutinhas penduradas na árvore. Eu as colhi delicadamente e entreguei na sua pequena mão.
Era um momento mágico, doce. Eu mostrei a ele as dezenas de flores que a árvore estava e expliquei que elas iriam se transformar em frutas em pouco tempo. Nós dois rimos, absolutamente extasiados.
Naquele momento em que tivemos um encontro amoroso com a natureza e seu ciclo perfeito, eu pensei que essa cena era, de certa forma, uma analogia com a própria vida.
Nossa vida é feita da sequência cíclica e não necessariamente ordenada das estações do ano. Há os verões, que as coisas intensas nos acometem, com os seus amanheceres ensolarados e em que tudo parece estar no eixo, no rumo, se desenvolvendo da melhor maneira possível. Mas o verão não dura para sempre e, mais cedo ou mais tarde, o calor vai sendo substituído pelo vento frio e a queda de algumas de nossas folhas nos levam ao outono. Há muito a que se aprender no outono e cada folha que cai representa algo que precisamos nos desapegar para que outra coisa melhor venha em substituição.
Quando o inverno chega, é natural que a gente se feche, se encolha. O frio, porém, que a princípio parece ser algo negativo, pode nos mostrar a força que temos em nosso interior e, principalmente, a importância de termos algo (lê-se alguém) para nos manter aquecidos. E como todas as outras estações, o inverno dura apenas o tempo necessário para aprendermos aquilo que ele precisa nos ensinar... E descobrimos que existem forças que moram em nossas vulnerabilidades.
O que finalmente nos leva à primavera... Ah, a primavera! A vida que brota em cada esquina, cada flor, cada fruta. O clima ameno, nem quente nem frio, o acalento silencioso do entardecer rosado nas colinas, o sabor doce das frutas... Ela é representada por um sorriso, um olhar, um abraço, um carinho, uma palavra...
Às vezes, as estações da vida acontecem em períodos distintos; já em outras, elas nos acometem todas num único dia e só nos resta ser sábios para lidar com as dificuldades que cada uma delas nos apresenta e usufruir suas alegrias, que são muitas.
Esse ano, já "veraneei", já "outonei" e "invernei"... Nesse momento, estou "primaverando", aproveitando cada pequena frutinha vermelha que a vida tem a bondade de me oferecer e, com muita humildade e carinho, compartilho hoje com vocês.

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