quinta-feira, 13 de abril de 2017

Num outro mundo...



Hoje fomos ao shopping, realizar as compras de Páscoa. Com dois meninos pequenos, fizemos um esquema de divisão: enquanto meu marido encarava as filas e escolhia os chocolates, coube a mim a missão de distrair as duas ferinhas. Não foi nada difícil... Eu os levei à livraria e ficamos mais de quarenta minutos sentados, lendo.
Não pude evitar de ter alguns flasbacks da minha infância e adolescência com essa cena. Enquanto meus meninos desfilavam pelas prateleiras, escolhendo concentradamente as histórias, lembrei-me da jovem Caroline, com seus doze ou treze anos, passeando pelo shopping.
Eu curtia o cinema, assim como o famigerado Mc Lanche Feliz (que agrada meus guris tanto quanto os livros). Também amava passear pelas lojas e sonhar com objetos de consumo de vários tipos. Porém, no momento em que eu entrava pelas portas da livraria, o tempo congelava. O restante não importava mais. Nem coelhos, nem chocolate ou qualquer outra coisa. Era ali o meu lugar.
Enquanto eu caminhava lenta e timidamente pelas prateleiras de livros, meus olhos passeavam com rapidez pelos títulos e minhas mãos acariciavam algumas capas, como se fossem feitas de algo precioso, que pudesse quebrar. Algumas vezes, eu abria um ou outro livro apenas para sentir seu cheiro característico e ler frases aleatórias, numa tentativa de emergir naquela história em um gesto apenas.
Era impressionante o poder que os livros exerciam sobre mim. Quando eu tinha uma história para ler, todo o restante do mundo simplesmente desaparecia. Eu poderia ler no meio da livraria, com várias pessoas passando e conversando ao meu redor. Nada importava. Eu estava dentro da história, nada poderia me tirar dela. Era como se, ao abrir um livro e pousar meus olhos sobre suas letras, uma nova dimensão se dispusesse diante de mim e eu adentrava por ela, fechando a porta para o resto que ficou do outro lado.
Não importavam festas, encontros de amigos, reuniões familiares. Aliás, todas essas coisas me eram enfadonhas e aborrecidas na fase da adolescência. Talvez eu realmente tivesse um grau não diagnosticado de autismo, onde meu ponto de equilíbrio para escapar da realidade tumultuada de vozes, cores e estímulos, eram os livros.
O meu mundo. Onde eu podia deixar exacerbar toda a sensibilidade que eu tinha dentro de mim, e que ninguém do lado de fora parecia conseguir compreender. As letras, versos e palavras foram meu refúgio durante anos. Embora hoje eu seja mais “incluída” socialmente, ainda é ali que me sinto em casa. Quando estou lendo ou escrevendo, sou eu mesma. Fora disso, só quem consegue mergulhar em minha essência pode me compreender. E acredite, são poucos...
Sou um verso em eterna construção num mundo em que poesia, arte e sensibilidade não tem a menor importância. Sou uma linha espiral no meio de formas retas e ângulos exatos. Ainda não me encaixo em lugar nenhum nessa sociedade... Mas enquanto houver livros, vai estar tudo bem.