segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017





Trem Bala – Ana Vilela
 
“Não é sobre ter
Todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar
Alguém zela por ti
É sobre cantar e poder escutar
Mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida
Que cai sobre nós.”
Um dia desses, escutei essa música e a desfrutei como a um poema. Ela ficou na minha cabeça por dias e eu aproveitava cada verso que minha mente foi capaz de memorizar. Vivi as verdades cantadas nos versos e refleti sobre minha própria existência e convívio com as pessoas ao meu redor.
E quer saber? Descobri que estava fazendo muita coisa errada. É, às vezes uma música nos ajuda a entrar no nosso próprio subconsciente e encontrar respostas que estavam ali o tempo inteiro, mas nosso orgulho as tapava com as mãos para que não enxergássemos e aceitássemos.
O orgulho é uma coisa interessante. Ele é o típico enrustido. Está lá, para todos verem, mas não aceita a si mesmo. É lógico que não vamos aceitar o orgulho. Ele é a prova sincera de que estamos errados e olhando apenas pelo nosso ponto de vista.  Orgulho bate de frente com a empatia. Os dois nunca dividirão o mesmo recinto.
Todas as evidências de que estamos agindo de modo orgulhoso se desmascara diante de nós quando nos determinamos a aceitar esse fato. O orgulho é tão dissimulado que nos impede de aceitar que estamos agindo de forma orgulhosa. É o orgulho disfarçando o próprio orgulho...
Mas enfim, meu estopim foi essa música. Eu me peguei pensando em problemas de relacionamentos com algumas pessoas e finalmente entendi o problema da situação: faltava-me empatia. Sim, essa palavra curtinha que é capaz de resolver todos os problemas do universo humano.
Os seres humanos, por si só, tem a tendência de autodefesa e autopiedade diante dos conflitos. A capacidade de se colocar no lugar do outro é algo a ser exercido, não vem naturalmente. O natural é procurar defesas, motivos para se justificar.  E com isso, quantos abismos são construídos entre pessoas que deveriam se dar bem. Muros invisíveis e silenciosos, quase tão intransponíveis quanto a Grande Muralha da China, separando irmãos, primos, cunhados, amigos... E no fundo, tudo o que faltava era um momento de clareza das partes envolvidas para admitir o próprio orgulho e se colocar no lugar do outro.
Tantos julgamentos, diz-que-me-disse, rostos virados e corações enregelados. Tanta falta de perdão por coisas pequenas e falhas humanas comuns, das quais deveríamos apenas rir e nos desculpar. Mas somos capazes de, teatralmente, virar o jogo e transformar tudo a nosso favor. O orgulho é o melhor advogado de defesa que existe. Ele sempre vai te defender. Para ele, você sempre estará certo. Mas cuidado. Muitas vezes estar certo não é tão interessante quanto estar em paz. Consigo e com os outros.
“É sobre ser abrigo
E também ter morada em outros corações
E assim ter amigos contigo
Em todas as situações
A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso, eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe
Pra perto de mim”

Um dia tudo vai passar. As palavras podem ferir, mas o tempo vai apagando suas marcas e logo as coisas se tornam irrelevantes. Só a falta do convívio sincero com as pessoas que queremos bem não vai se apagar.
Pode ser até que você esteja absolutamente certo com relação a certo conflito e a outra pessoa seja a verdadeira e única culpada (o que eu sinceramente duvido, pois sempre há dois lados). Indiferente disso, pergunte-se, sem a interferência do seu advogado orgulho, vale a pena? Estar certo e longe é melhor do que a reconciliação sincera, humilde e verdadeira?
O tempo não é nosso aliado... Ele segue passando, não se preocupando com os momentos que você deixou de vivenciar ao lado de pessoas queridas por conta de intrigas e desentendimentos. Ele também não vai voltar atrás. Ele segue em frente. Sempre. Não seja inimigo dele, mas aproveite-o com toda a sua magnitude. Ame, perdoe, aceite os erros dos outros. Mesmo que seja difícil. Mas vale a pena. Pode acreditar. Quando você ou eles partirem, que fiquem apenas as boas recordações e aquele gostinho de “quero mais” que só as pessoas amadas são capazes de proporcionar à nossa alma...

“Segura teu filho no colo
Sorria e abraça seus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir”


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Falando sobre rótulos...





Há algumas semanas escutei uma conversa interessante. Certa mãe, cujo filho possui várias características típicas de autismo, afirmou que, embora suspeitasse que ele fosse autista, não levava seu filho ao médico porque não queria dar-lhe nenhum rótulo.
Muito bem, o autismo é um tipo de rótulo. Não podemos negar. Algumas vezes, o rótulo limita. Porém, na maioria delas, ele amplia os horizontes. Abre a mente...
Deixe-me usar um exemplo real: certo dia, meu filho teve uma crise porque precisou tirar a camisa em público. Esse ato é bastante desconcertante para ele e aquilo o desestabilizou completamente. Ele começou a chorar e tentou se esconder, tampando o corpo com as mãos.
Se eu não tivesse o laudo de autismo, aquela situação poderia se tornar algo extremamente doloroso para todos os envolvidos: ele continuaria gritando, as pessoas que não o conheciam ficariam assustadas e eu ficaria nervosa diante da cena. Mas não. Tudo foi explicado de forma tranquila, Henrique se reorganizou e aquelas pessoas tiveram o privilégio de aprender um pouco mais sobre o que é o autismo.
A fala daquela mãe mostra, para mim, uma pessoa ainda aprisionada no terreno do medo. Ela sente que há algo diferente em seu filho, sofre com isso, mas não vai atrás do laudo específico, justificando seu medo na ideia de que estaria lhe dando um rótulo eterno.
Mas, como professora de crianças há mais de dez anos, eu posso dizer com propriedade que o que elas mais fazem é dar rótulos umas às outras. E os adultos também. Principalmente para pessoas que se destacam em alguma característica diferente...
Os rótulos da sociedade podem ser cruéis. O chamado bullying, que aflige os adultos dos dias atuais, tanto pais como professores. O bullying nada mais é do que rótulos criados baseados em questões exacerbadas. Alguns exemplos de rótulos que crianças não diagnosticadas com autismo recebem: esquisitas, mimadas, mal educadas, rudes, insensíveis... Aí vai.
Estou levantando essas questões para deixar claro novamente que a busca por um laudo jamais será uma coisa negativa na vida do seu filho. Por mais que seja assustador, acredite, todo o medo passa depois de um tempo. Você fica mais forte, mais corajoso, mais inteligente, mais sensível. Porque, ao descobrir o que afeta o seu filho, você vai aprendendo diariamente, seja através de estudos particulares ou na troca com pessoas que tem filhos com a mesma deficiência do seu.
Desde que recebi o laudo do Henrique, eu mergulhei de cabeça nesse tal espectro e senti liberdade!
Sim! A liberdade de tomar as atitudes corretas para educar e estimular meu filho, sem me preocupar o que os outros estão pensando ou não disso. A liberdade de aceitar o meu menino do jeitinho que ele é, mas sempre buscar meios de trazê-lo mais para perto de nós, minimizando ao máximo as suas alterações emocionais, sociais e sensoriais.
Hoje sou uma mãe livre. Meu filho não tem um rótulo. Ele tem um laudo que nos ajuda a compreender esse mundo azul lindo e cheio de aprendizados.
Não deixe que nenhuma ideia te impeça de buscar o laudo do seu filho. Essa busca, embora pareça assustadora, renderá frutos maravilhosos para toda a sua família! Pode acreditar nisso.