quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Emoções e Interações Sociais





De modo geral, as crianças do transtorno do espectro autista possuem alterações com relação as emoções. Algumas sentem demais. Outras de menos. De qualquer forma, há uma diferença nas reações e no modo de sentir.
No caso do Henrique, penso que ele sente demais. É muito sensível com relação ao que é dito e aos acontecimentos que o rodeiam e tem uma sensibilidade exacerbada a dor.
O desenvolvimento emocional das crianças com autismo, tipo asperger, tende a ir a um ritmo mais lento. Frequentemente reagem de um modo que é mais próprio de crianças menores. A maioria deles tem dificuldades em entender os motivos e as intenções dos outros.
Henrique também tem uma visão distorcida do que as outras pessoas pensam dele. É o caso dos colegas da escola, que ele diz que não gostam dele. Na verdade, esse não gostar é uma forma de dizer que ele não consegue se relacionar com eles.
Para crianças com síndrome de asperger, pode ser estressante lidar com outras pessoas. O que os outros fazem de forma natural, para eles é necessário um grande esforço e, pode acontecer que suas tentativas de compreender os outros não tenha êxito, o que gera frustração.
Mas quando o Henrique faz um amigo, ele acaba se apegando excessivamente. Aquele amigo se torna o eixo da sua vida e ele quer passar o tempo inteiro junto.
Sabemos que é difícil conviver com uma pessoa assim. Afinal, todos precisam de seu espaço e não querem ter a obrigatoriedade de atender ao outro com exclusividade. Principalmente as crianças.
As crianças típicas têm vários amigos para cada ocasião. Alguns gostam de determinados amigos para passear, outros para desenhar, etc...  Brincam com quem quer que seja que esteja realizando a atividade que ele quer realizar.
Mas essa é uma característica bastante peculiar no Henrique. Ele tem dificuldade em interagir com mais de uma criança ao mesmo tempo. Isso nós tínhamos percebido antes do laudo, nas festas de aniversário de amigos e familiares.
Acontece que quando você não tem um laudo, tudo é mais difícil de compreender e, de certa forma, mais amedrontador.
A partir do momento que o Henrique começou a fazer terapia semanal com a Evelise, eu percebi que tiveram mudanças nesse setor.
A primeira mudança que percebi foi com relação aos colegas da escola, que ele não memorizava os nomes. Se encontrássemos com alguma criança que estudava com ele fora do ambiente escolar, ele não reconhecia, não sabia quem era...
Com o início da terapia, ele passou a notar a presença dos colegas ao redor e chamá-los pelo nome. Ainda que as interações sociais entre eles sejam poucas, esse foi um grande avanço.
Outro ganho que a terapia trouxe foi que ele se tornou mais aberto a conhecer novas crianças. Muitas vezes ele ainda precisa de intervenção, como aconteceu certa vez que eu o levei ao parquinho. Ele queria brincar na gangorra, mas estava sozinho. Então ele sentou na ponta da gangorra, pelo lado de dentro do puxador. Em determinado momento, um menino veio e sentou atrás dele, demonstrando naquele gesto que estava disposto a brincar. Mas como o menino não falou nada, o Henrique não se mexeu. Eu me aproximei e expliquei a ele que fosse até a outra ponta da gangorra, pois o colega queria brincar com ele. Ele ficou feliz e obedeceu e eles brincaram por um tempo.
Era uma coisa simples de se interpretar, mas ele não conseguiu fazer sozinho aquela leitura da intenção do menino. Isso é bastante comum e por essa razão que os pais e professores de crianças do espectro devem estar sempre atentos para intervir da maneira mais adequada.

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