No texto
anterior, salientei a importância do tato que qualquer pessoa, educador ou não,
deve ter diante da informação que uma família está buscando o laudo de sua
criança.
Porém, surgiu
uma questão extremamente contundente que me levou a escrever esse novo texto. E
as vezes que apenas o professor percebe a diferença? O ambiente escolar é
bastante tumultuado e os afazeres dos professores vão muito além de ensinar os
conteúdos da matriz curricular. Por essa razão, no texto anterior, salientei
que os professores, muitas vezes, não observam detalhes referentes a possíveis
dificuldades educacionais em seus alunos, seja por despreparo para tal ou
simplesmente pela correria do dia a dia, com tantas crianças para ensinar e
orientar.
Porém, há muitos
educadores que, seja pela experiência pessoal ou mergulho conceitual,
adquiriram o olhar diferenciado e notam que determinada criança possui características
que podem vir a ser algum tipo de síndrome. Essa criança comunica ao seu
educador, através de ações, reações, falas e escritas, aquilo que não conseguiu
comunicar aos seus responsáveis. E agora?
Para qualquer
educador, essa é uma constatação bastante delicada. Muitos deles temem a reação
da família e se fecham em sua missão, decidindo não comunicar. Há os que o
fazem e, delicada e amorosamente, orientam a família sobre a possibilidade de
haver algum distúrbio de aprendizagem no filho deles.
A bomba foi lançada
e muitas famílias realmente se zangam e ofendem em ouvir isso. Não é o que eles
querem ouvir e eles simplesmente não sabem lidar com essa situação. Dessa
maneira, a criança permanece por anos e anos na escola e nada acontece. O
professor se vê extremamente frustrado e decepcionado em sua missão, pois sua intenção
é apenas o crescimento dos seus alunos como o todo.
Mas agora eu me
aprofundo na questão: por que essas famílias não seguem a orientação do
profissional e partem em busca de um laudo? Há muitas razões para isso, vou
listar apenas as que vivenciei como mãe e professora.
A primeira é
que, o terreno da possibilidade de que haja algo de errado com nosso precioso
filho é verdadeiramente assustador. Muitos pais se vêem afundar nesse terreno
como se fosse areia movediça e realmente não conseguem dar o próximo passo em
função do medo de descobrir algo que não agrade ouvir.
O segundo é a
questão de que ainda existem muitos (e vejo de perto) profissionais – psicólogos,
fonoaudiólogos, terapeutas, etc – que estão despreparados enxergar determinados
tipos de deficiências. Então, quando os pais conseguem sair do terreno do medo
e partem em busca de ajuda, algumas vezes se deparam com esse tipo de profissional,
que lhes afirma com propriedade que não há nada de diferente com o filho. Se o
profissional disse, está tudo ok, encerrado o assunto... Mas aquela criança
continua sofrendo e continua sendo diferente em certos aspectos. Então será que
aquele parecer profissional estava certo?
A terceira
possibilidade é a do orgulho. Sim, muitas famílias verdadeiramente NÃO vêem
nada de errado com o filho deles e considera que aquilo é algum tipo de perseguição
da escola. Vou dar meu parecer como professora sobre esse tipo de pensamento: nós
professores, com todas as atribuições que temos em sala de aula, sinceramente não temos tempo de “perseguir” qualquer
aluno que seja. Nossa função é ensinar e contribuir para o crescimento
intelectual daquelas crianças que nos foram confiadas. Sinceramente, muitos
professores já ouviram expressões desse tipo, “mas em casa ele não é assim”, “só
na escola que ouço essas reclamações”, etc. É frustrante e realmente
desanimador ouvir esse tipo de comentário, uma vez que sua intenção em instruir
aquela família era apenas para o bem da criança.
Dessa forma,
essas crianças seguem no ambiente escolar, lidando solitariamente com suas limitações
e diferenças, sem que ninguém verdadeiramente possa ajudá-los. Afinal, a
professora ou professor que nota essas questões não pode levar aquela criança
ao médico, quem tem que fazer isso é a família. Mas, pelas questões listadas
acima, a situação fica como está e essa criança cresce, sai da escola, ficando
para nós professores apenas a esperança que, algum dia, alguém a olhe com o
olhar que tivemos e verdadeiramente a ajude em sua trajetória.
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