quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Natal em Aleppo



Faltam dois dias para o Natal. Nosso país está envolvido em uma onda de luzes, enfeites e “Papais Noel” por todos os lados. A propaganda na televisão fala repetidamente da importância de presentear, de festejar, de amar... E eu olhei para um lado não tão colorido do mundo e fiquei aturdida.
Lá não tem cores, enfeites, Papai Noel. Na verdade, lá não tem nada digno de ser visto. Têm pessoas morrendo de forma brutal, famílias se suicidando para fugir da violência, crianças que não tem mais força para chorar, pessoas fugindo desesperadas. As luzes que brilham daquele lado do mundo são as luzes das bombas e fagulhas de metralhadoras que dizimam centenas de milhares de pessoas há mais de cinco anos. Mais de 240 mil pessoas morreram desde então e, dentro desse número, estão 12 mil crianças. A ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da população vive na pobreza.
Aí eu fico aqui, lembrando que teremos uma ceia com a família daqui dois dias. Então eu penso mais fundo e vejo o quanto sou agraciada por ter uma família. Por ter um lar. Por poder andar na rua sem que uma bomba exploda diante de mim ou uma metralhadora extermine minha existência no caminho da padaria. Mas, que padaria? Eles mal têm o que comer, o que vestir. E a cada dia, mais e mais pessoas ficam sem um lugar para morar. E eu aqui, pensando se compraremos presentes ou faremos amigo-secreto.
Então percebi minha completa inutilidade nesse mundo. Sinceramente, para que uma festa tão esplendorosa como o Natal, onde tantas pessoas cantam, vão à igreja, acendem velas e pedem por suas intenções particulares tão pequenas (diante de Aleppo,diga-se, insignificantes), quando em um lugar do mundo está acontecendo algo tão desastroso como a guerra da Síria?
Tanto dinheiro que gastamos com frivolidades, enfeites, jantares, presentes... Enquanto isso, tem milhares de crianças passando fome e dormindo sob o domínio do medo e da insegurança. Pinheirinho, velas, peru...Para quê?
A maioria das pessoas se lembra da Segunda Guerra Mundial com grande reverência, salientando todo o sofrimento e tristeza que ela causou... Mas isso acabou em 1945. Temos agora, em pleno século XXI, uma guerra tão cruel quanto, matando pessoas da nossa geração. E nós aqui, pensando na ceia de Natal... No vestido novo... No tablet, smatphone, notebook, Xbox... Pensando em futilidades. E enquanto pensamos nisso, mais gente morre, mais crianças choram, sentem fome, sede e dor... No nosso tempo, na mesma hora que nós entoamos alegremente os cânticos de Natal. É agora que a Síria está em guerra, não adianta fingir que não é com a gente. Não adianta dizer que não podemos fazer nada, porque podemos. E devemos. Tanto dinheiro gasto com as festas de Natal e na hora de ajudar alguém que precisa, temos a coragem de dizer que não podemos, que não temos condição. Estamos pensando novamente nas nossas imbecilidades, nossas férias, nossa ceia de Reveillón, nas economias para trocar de carro e coisas assim.
Rezar é bom. Estar em sintonia com Deus e pedir por essas pessoas e essa situação tão triste e devastadora é o mínimo que qualquer cristão deve fazer. Mas não fique só nisso. Ajude mesmo. Se cada um fizer uma pequena doação, essas entidades poderão salvar mais vidas. É ridículo pensar que podemos gastar tranquilamente cinquenta reais em um jantar e acreditarmos que essa mesma quantia é um exagero para se doar a uma causa como essa. Aleppo é urgente. Não adianta deixar tudo acabar para dizer o quanto foi triste. Já está triste o suficiente agora. Que cada um consiga fazer um gesto concreto nesse Natal. Senão, toda a reverência ao Soberano Deus que nasceu numa manjedoura não vai passar de hipocrisia. Afinal, a fé se mede em obras, não em palavras.

1. Ajude a Capacetes Brancos
Encabeçada pelo líder humanitário Raed Al-Saleh, esta organização é responsável por procurar e salvar vítimas em regiões controladas pelos rebeldes, inclusive em Aleppo.
Até o presente momento, 10 mil feridos já foram resgatados durante o conflito. Integrantes também desempenham, além da retirada de pessoas de bombardeios e escombros, as tarefas de arrecadação de dinheiro para próteses e apoio psicológico aos familiares dos mortos. Saiba como doar visitando seu site oficial.

2. Ajude o Médicos Sem Fronteiras
A organização fornece suprimentos médicos para 158 hospitais localizados no leste de Alepo, uma das áreas mais atingidas pela guerra, e tenta manter 6 instalações médicas distribuídas na região norte do país.
Pela intensificação dos conflitos, a maioria destas instituições não estão sendo capazes de atender todos os feridos. Por isso, as doações são fundamentais. Saiba como ajudar e leia sobre o trabalho na Síria.

3. Ajude o Comitê Internacional de Resgate
O IRC, como é conhecida, é responsável por assistir pessoas que estão fugindo de guerras ao redor do mundo, inclusive os refugiados sírios. Acesse o site oficial para doar.
4. Ajude a Salve As Crianças
Esta ONG é responsável por auxiliar crianças e seus familiares a fugirem dos conflitos que os afetam – tanto os que se mudam internamente, quanto aqueles que partem para outros países. Saiba mais sobre o trabalho dos voluntários e faça sua doação.

5. Ajude a Agência de Refugiados da ONU, a Estação de Ajuda aos Migrantes e a Questscope
Ser obrigado a deixar – às vezes sem absolutamente nenhuma perspectiva de mudança – sua casa é uma realidade recorrente para a maioria dos refugiados ao redor do mundo. A Agência de Refugiados da ONU é uma das responsáveis por fornecer educação e recursos essenciais para que esses pequenos retomem suas vidas em outro país.
Outras organizações que unem esforços em prol da causa são a Estação de Ajuda aos Migrantes e a Questscope, a primeira presta assistência a refugiados da Jordânia e a segunda ajuda os refugiados a cruzarem o mar rumo à Europa em segurança.

6. Ajude o Movimento Internacional da Cruz Vermelha

A organização está auxiliando na retirada de civis feridos – entre eles mulheres e crianças – das regiões mais suscetíveis aos bombardeiros aéreos e ataques terrestres, principalmente em Alepo. Para que os resgates continuem, doe pelo site oficial.

http://claudia.abril.com.br/noticias/6-maneiras-efetivas-para-ajudar-as-vitimas-de-aleppo/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A brevidade da vida





Essa é uma das semanas mais pesadas do ano. Nessa semana somos convidados a refletir sobre o valor da vida e nos deparamos com a realidade da sua brevidade. Um dia, aqueles homens, jovens ou mais velhos, estavam abraçando seus familiares para embarcar num avião. Eu imagino a cena, que deve ter sido corriqueira para a maioria, levando em conta a vida de viagens que aqueles profissionais levavam. Alguns, dando até logo, sem muita profundidade, afinal, era só mais um jogo; outros talvez tivessem discutido com alguém da família e pensaram que resolveriam na volta...  Mas que volta? Não teve volta e não terá. Era um dia normal, uma despedida dessas tantas que damos a quem amamos, na saída de casa todos os dias, aquele tchau corrido, ás vezes um beijo rápido, um abraço apressado...
Aqueles homens morreram de repente. Mas a morte é de repente. Não há como ler, pela manhã, a lista de nomes de pessoas que morrerão naquele dia, naquele mês, naquele ano... A lista que existe é a dos que já foram. Não dá pra dizer: esse aqui vai primeiro, vou me dedicar mais a ele... Não é uma coisa possível e isso assusta o ser humano mais do que ele gostaria de admitir.
Esse ano foi o ano das perdas... Perdemos muitas pessoas ao nosso redor, seja por doença, velhice, acidente... Para o nosso convívio, foram muitas. A dor da perda só não é maior do que a surpresa do momento. Se eu soubesse... Teria dado um abraço mais comprido naquele dia. Teria falado o “eu te amo”, que deixei para falar mais tarde. É uma infinidades de ‘eu teria...’ que apenas o coração de cada um pode dizer.
Sinto meu coração apertar quando penso nas pessoas que ficaram. Como eu tenho uma fé firme do porvir, não tenho pena dos que foram. Eu realmente acredito que eles estão muito melhor do que nós nesse mundo. Mas a dor e a saudade dos que ficaram é o que me sensibiliza de verdade. Dói demais. Principalmente porque a morte chega sem bater na porta, ela entra e leva, esteja você preparado para isso ou não. E se não tínhamos resolvido tudo o que precisava ser resolvido, fica aquela marca do “agora não dá mais”. Não dá mais para beijar, abraçar, valorizar. Não dá. A única coisa que resta é entrar em contato com o Doador da vida e mandar um recado através dele. E Ele ouve e transmite, eu tenho certeza disso. Só assim o coração de quem ficou vai conseguir ter paz e aceitar a realidade – triste, assustadora, parecendo às vezes cruel – de que não somos nada nesse mundo.
Por isso, como diz a canção: “Ame mais, abrace mais... Pois não sabemos quanto tempo temos pra respirar”. Quando o respirar termina, todas as demonstrações de amor, gratidão, respeito e admiração se tornam desnecessárias. As pessoas passam tempo demais julgando, criticando, desvalorizando, sem pensar que o avião da vida está no ar e, de uma hora para a outra, pode acabar o combustível. Bobo isso, né? Como vai acabar o combustível de um avião? Mas acabou do avião que levava o time inteiro da Chapecoense. O motivo da morte dessas pessoas não poderia ser mais ridículo. Mas a morte é ridícula. Eu achei absolutamente ridículo meu pai morrer em cinqüenta dias, levado por um câncer galopante. Assim como é ridículo perder tempo com brigas, contendas, fofocas, inveja.  O ser humano precisa entender essa questão e valorizar mais a vida. A sua vida, sim, mas principalmente a das pessoas que estão ao redor, tantas vezes implorando silenciosamente por olhares e palavras amorosas de nossa parte. Incentivo... Torcida. Cada um está tão fechado em si, em seus próprios problemas e em suas próprias certezas incertas de que vai dar tempo mais tarde, que o avião cai sem dar tempo para mais nada. O depois pode não chegar. Não chegou para eles... Só nos resta rezar por todos... Pelos que foram, para que alcancem a plenitude que todos desejamos... Mas principalmente pelos que ficaram, que agora vivenciarão seus momentos angustiantes do “e se...” e “eu devia...”. Rezo sinceramente que esse momento passe rápido e eles possam se agarrar nas mãos do Doador da vida para compreender a incompreensível brevidade da nossa existência nesse mundo.