terça-feira, 29 de novembro de 2016

Idas e Vidas - A força que habita na nossa fraqueza




 A partir de hoje já está disponível para a venda no site da Amazon o meu primeiro livro "Idas e Vidas - A força que habita na nossa fraqueza". Quem tiver interesse em adquirir, basta entrar no link abaixo e comprar. 

https://www.amazon.com.br/dp/B01N0KG6LF

Abaixo, uma breve sinopse da história. Nesse livro, abordei temas delicados como: abandono, adoção, relacionamentos interpessoais familiares e o enfrentamento de um câncer na família. Os personagens vivenciam suas lutas diárias e descobrem, através do amor, que existe uma força interior em cada um que, muitas vezes, é revelada nos momentos de maiores fraquezas. 

Quando sua vida está com todas as peças encaixadas, uma descoberta pode desestruturar tudo.

Luca é um rapaz com um passado de perdas e sacrifício. Órfão de nascença, viveu até os seis anos em um orfanato com seu irmão mais velho Heitor, quando foram adotados e amados. Aos dezoito anos, ao descobrir que seu pai biológico estava vivo, ele parte em uma busca decisiva para si mesmo e sua família. Passados oito anos disso, Luca vive o melhor momento de toda a sua vida, quando tudo está perfeito e fluindo da melhor maneira no trabalho, na família e no amor. No entanto, o resultado de um exame de sangue apresenta algumas palavras difíceis que mudam tudo e Luca precisa tomar decisões importantes que farão seu futuro e o de todos ao seu redor não sair de acordo com o planejado.
 Uma história de amor entre irmãos, perdão, amizades verdadeiras, superação dos próprios limites, encontros e reencontros.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O Presépio Desorganizado





Ontem à noite, antes de ir dormir, Henrique me pediu para rezarmos em frente ao pequeno presépio de Natal, que tínhamos montado no sábado. O presépio em questão é de resina, de maneira que eu salientei para os dois pequenos, no momento da montagem, que nenhum deles deveria tirar os personagens de seus devidos lugares, para não quebrar.
Na noite de ontem, porém, percebi que minha ordem não tinha sido obedecida, de maneira que me diverti ao observar a maneira que os personagens estavam... Alguns, virados de costas para a manjedoura, outros caídos de lado e um dos reis magos estava totalmente afastado da cena, inclusive fora da toalha em que a cena fora montada.
Enquanto Henrique repetia suas orações, eu me vi distraída, olhando para aquelas peças de resina e pensando na profundidade que aquilo poderia significar... E descobri, naquele momento, que nós éramos aqueles personagens. Sim, a menos de um mês para o Natal, há muitas pessoas viradas de costas para a manjedoura, com a atenção voltada para coisas triviais, como presentes, decorações, luzes... É tudo tão brilhante e maravilhoso, que as pessoas se detêm apenas nisso, esquecendo o foco principal.
Há aquelas pessoas que, como o pobre rei mago fora da toalha, ainda não entraram no espírito do Natal. Estão afastadas, preocupadas em cuidar de seus afazeres corriqueiros, ou então, presas à mexericos e mágoas... Essas pessoas estão excluídas do momento mágico do Advento por sua livre e espontânea vontade. Não estão dispostas a aceitar que, enquanto nosso coração tiver um milímetro de mágoa e ressentimento pelo outro, o menino Jesus não virá habitar.
O Advento é profundo quando paramos para pensar nessas questões. Percebo, de outros anos, que no dia do Natal o meu celular quase trava com tantas mensagens de ‘Boas festas’, ‘Feliz Natal’ e ‘Paz’ que recebo. Tem pessoas que enviam várias mensagens dessas, e eu me pergunto se elas realmente refletiram no conteúdo, antes de encaminhar... Afinal, no dia do Natal, antes de me preocupar com a ceia, os presentes, a luz da árvore, as visitas e outras coisas triviais e irrelevantes como essas, preciso ter certeza de que estou em paz com o mundo e com as pessoas do mundo, do meu mundo. Isso inclui a vizinha fofoqueira, a tia mal-humorada, a prima invejosa...
O ser humano é cheio de falhas e defeitos e nossa paz consiste, na verdade, em saber relevar todos esses encontros e desencontros de opiniões e estilo de vida. Estar em paz não quer dizer abraçar todo mundo e dizer, da boca para fora, que perdoa e ama. Podemos fazer isso, mas precisamos ter a compreensão de que o perdão é mais profundo do que isso... O perdão é você mostrar, através de suas ações, palavras e gestos, que você aceita a limitação daquela pessoa, que em determinado momento do ano chegou a te ferir, mas que é apenas isso: a limitação do ser dela. Como eu tenho as minhas milhares de limitações e o leitor, certamente, descobrirá as suas...  A partir do momento que o ser humano compreender essa dinâmica simples e verdadeira, o Natal poderá verdadeiramente chegar ao nosso coração.
O presépio do nosso coração deve começar a ser organizado dentro de nós desde já. Cada célula do nosso ser deve estar direcionada verdadeiramente para a manjedoura onde o Senhor da vida será colocado, que está chegando com o propósito de nos salvar de toda a nossa fraqueza. Assim, que consigamos ir ao encontro da fraqueza do outro e liberar verdadeiramente o perdão. Talvez o outro não te escute, pois a fraqueza dele é, exatamente, o orgulho. Mesmo assim, o nosso coração precisa estar livre e leve, sem julgamentos, sem ressentimentos...
Eu desejo que esse período do Advento seja maravilhoso na sua vida e esse mergulho espiritual que eu estou lhe propondo seja apenas o primeiro de muitos. Quero ressaltar ainda, que em momento algum em minhas publicações eu tenho o interesse de ofender quem quer que seja, lembrando que o que escrevo aqui é pura e simplesmente construções de desconstruções de uma pessoa completamente falha e imperfeita, que encontra na literatura, um acalento para a sua existência nesse mundo. Compartilho isso, pois não posso mais evitar de fazê-lo e porque acredito que posso melhorar o mundo dando ao mundo o que sinto fazer de melhor...

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

E quando só o professor vê?




No texto anterior, salientei a importância do tato que qualquer pessoa, educador ou não, deve ter diante da informação que uma família está buscando o laudo de sua criança.
Porém, surgiu uma questão extremamente contundente que me levou a escrever esse novo texto. E as vezes que apenas o professor percebe a diferença? O ambiente escolar é bastante tumultuado e os afazeres dos professores vão muito além de ensinar os conteúdos da matriz curricular. Por essa razão, no texto anterior, salientei que os professores, muitas vezes, não observam detalhes referentes a possíveis dificuldades educacionais em seus alunos, seja por despreparo para tal ou simplesmente pela correria do dia a dia, com tantas crianças para ensinar e orientar.
Porém, há muitos educadores que, seja pela experiência pessoal ou mergulho conceitual, adquiriram o olhar diferenciado e notam que determinada criança possui características que podem vir a ser algum tipo de síndrome. Essa criança comunica ao seu educador, através de ações, reações, falas e escritas, aquilo que não conseguiu comunicar aos seus responsáveis. E agora?
Para qualquer educador, essa é uma constatação bastante delicada. Muitos deles temem a reação da família e se fecham em sua missão, decidindo não comunicar. Há os que o fazem e, delicada e amorosamente, orientam a família sobre a possibilidade de haver algum distúrbio de aprendizagem no filho deles.
A bomba foi lançada e muitas famílias realmente se zangam e ofendem em ouvir isso. Não é o que eles querem ouvir e eles simplesmente não sabem lidar com essa situação. Dessa maneira, a criança permanece por anos e anos na escola e nada acontece. O professor se vê extremamente frustrado e decepcionado em sua missão, pois sua intenção é apenas o crescimento dos seus alunos como o todo.
Mas agora eu me aprofundo na questão: por que essas famílias não seguem a orientação do profissional e partem em busca de um laudo? Há muitas razões para isso, vou listar apenas as que vivenciei como mãe e professora.
A primeira é que, o terreno da possibilidade de que haja algo de errado com nosso precioso filho é verdadeiramente assustador. Muitos pais se vêem afundar nesse terreno como se fosse areia movediça e realmente não conseguem dar o próximo passo em função do medo de descobrir algo que não agrade ouvir.
O segundo é a questão de que ainda existem muitos (e vejo de perto) profissionais – psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas, etc – que estão despreparados enxergar determinados tipos de deficiências. Então, quando os pais conseguem sair do terreno do medo e partem em busca de ajuda, algumas vezes se deparam com esse tipo de profissional, que lhes afirma com propriedade que não há nada de diferente com o filho. Se o profissional disse, está tudo ok, encerrado o assunto... Mas aquela criança continua sofrendo e continua sendo diferente em certos aspectos. Então será que aquele parecer profissional estava certo?
A terceira possibilidade é a do orgulho. Sim, muitas famílias verdadeiramente NÃO vêem nada de errado com o filho deles e considera que aquilo é algum tipo de perseguição da escola. Vou dar meu parecer como professora sobre esse tipo de pensamento: nós professores, com todas as atribuições que temos em sala de aula, sinceramente não temos tempo de “perseguir” qualquer aluno que seja. Nossa função é ensinar e contribuir para o crescimento intelectual daquelas crianças que nos foram confiadas. Sinceramente, muitos professores já ouviram expressões desse tipo, “mas em casa ele não é assim”, “só na escola que ouço essas reclamações”, etc. É frustrante e realmente desanimador ouvir esse tipo de comentário, uma vez que sua intenção em instruir aquela família era apenas para o bem da criança.
Dessa forma, essas crianças seguem no ambiente escolar, lidando solitariamente com suas limitações e diferenças, sem que ninguém verdadeiramente possa ajudá-los. Afinal, a professora ou professor que nota essas questões não pode levar aquela criança ao médico, quem tem que fazer isso é a família. Mas, pelas questões listadas acima, a situação fica como está e essa criança cresce, sai da escola, ficando para nós professores apenas a esperança que, algum dia, alguém a olhe com o olhar que tivemos e verdadeiramente a ajude em sua trajetória.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Perigo do “Achismo”




Como professora da rede municipal de ensino há dez anos, eu percebo entre os colegas de trabalho e profissionais da educação, de modo geral, um “achismo” exagerado, um saber que não se sabe, uma certeza de coisas que só ouviu falar de longe... Penso que isso é uma coisa extremamente perigosa para as crianças com deficiências que estão camufladas no ambiente escolar.
Eu digo camufladas, e é a mais pura verdade. Porque se nem mesmo seus pais, que as criaram desde sempre, conseguiram ler os sinais da sua diferença, multiplique essa realidade por vinte, vinte e cinco, trinta alunos que a professora ou o professor precisa lidar todos os dias.
É absolutamente impossível você perceber muita coisa, especialmente em se tratando de níveis brandos de autismo, como o Asperger. Quem chama a nossa atenção acaba sendo o hiperativo, que não pára em seu lugar e não se concentra, ou o disléxico, que não aprende a ler... Mas um autista nível um, com cognitivo preservado e que fala normalmente (ou até de maneira rebuscada, em alguns casos) não atrairá os olhos do educador para a sua deficiência.
Afinal de contas, ele aprende! Ele é inteligente. É o que afirmam os profissionais da educação, com praticamente zero vivência no mundo do autismo. Isso é o que realmente importa, digamos de passagem, no sistema educacional enrijecido que temos.
Mas aí entra a questão importante do profissional conhecer o seu lugar e entender que uma palavra sua pode ser fatal na busca de uma família por um laudo. Um educador que não sabe de autismo mais do que algumas características básicas que leu num post do facebook não terá condições de afirmar que aquela criança pode ou não ser autista. Até porque, o autismo possui vários níveis, é um transtorno que afeta diversas áreas da vida da criança, muitas das quais não temos acesso como professores.
Estamos falando na questão emocional, sensorial, social... As estereotipias... São muitos detalhes para serem notados pelos professores, tendo em vista o número grande de crianças dentro da sala e o fato de que a maioria dos educadores não possui nenhum tipo de vivência extraclasse sobre o assunto.
No meu caso, meus olhos se ampliaram muito desde a descoberta do laudo do meu filho Henrique. Toda a pesquisa que fiz, o mergulho conceitual que me obriguei a fazer para ter condições de auxiliar meu filho ampliou meu olhar para os pequenos alunos com os quais convivo diariamente.
Estou anos luz de profissionais da área, como terapeutas e psicopedagogos, mas eu sinto que cada dia eu aprendo um pouco mais sobre as questões do autismo nível um com o laboratório vivo e sorridente que tenho dentro de casa. Isso despertou em mim um olhar um pouco mais sensível para os alunos, de maneira que procuro ajudar cada um deles com as dicas que aprendi no dia a dia do Henrique.
Por isso, cada professor e professora precisa cuidar em seus conceitos fechados sobre quem pode ou não ter autismo. E cuidar ainda o dobro quando um pai ou uma mãe vier lhe informar que está fazendo uma avaliação ou pretende fazer uma avaliação para verificar se o seu filho ou filha tem autismo. Por mais que você não veja NADA de diferente naquela criança, jamais desmotive os pais. Eles têm uma vivência com aquela criança que transcende a sua vã sabedoria sobre o assunto. E se a intuição deles os motiva nessa busca, incentive! O máximo que vai acontecer é a criança não ter nada. Ótimo. É melhor pecar pelo excesso! Mas se aquela criança tem características do espectro e os pais desistirem do laudo porque a professora não viu nada, é uma responsabilidade gigantesca para qualquer educador!
Isso transcende aos professores, qualquer pessoa que, em seu senso comum, falar palavras que desestimule um casal a ir atrás de um laudo, qualquer que seja, precisa entender que está pisando em um terreno extremamente sensível. Porque é dificílimo para qualquer casal aceitar que seu filho pode ter algo de diferente e que precisam buscar ajuda profissional. Nesse momento, o casal está frágil e é capaz de acreditar na opinião de quem quer que seja que diga que aquilo é bobagem, que o filho deles não tem nada, que é coisa de criança... E se esse tipo de frase parte de um educador, o peso é, de certa forma, maior ainda.
Os pais que têm aquele pressentimento (porque o temos sim), de que há algo de errado com o filho, ao mesmo tempo tem tanto medo de descobrir o que é, que preferem permanecer no cômodo espaço do: talvez não seja... E esse talvez não seja pode durar anos e isso é extremamente prejudicial para a criança. Afinal, uma criança que tem dificuldades educacionais ou autismo em nível um está travando batalhas contra si mesma e lidando com o que os outros esperam dela e ela não consegue oferecer que gera sofrimento e tristeza.
Há crianças não diagnosticadas com autismo durante a infância que chegam à adolescência com depressão, podendo inclusive ter pensamentos suicidas em função da falta de habilidades sociais e desorganizações sensoriais que, se tivessem sido trabalhadas desde cedo, teriam sido devidamente resolvidas.
Dessa forma, pensemos e pesemos cada palavra e gesto nosso, seja como educador ou não, ao lidar com situações referentes à delicada situação da busca do laudo de alguém que conhecemos. Podemos estar cometendo um erro e levando outras pessoas a cometê-lo, que pode gerar sofrimento e solidão a uma criança. Na minha opinião, negar um laudo a uma criança que possui uma deficiência é, perdoe-me o desabafo, no mínimo cruel.

Se tiver se interessado em aprender mais sobre a Síndrome de Asperger, indico alguns links interessantes:

https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8184081039253315887#editor/target=post;postID=1831539851645100409
http://autismoerealidade.org/wp-content/uploads/manuais/Manual_para_Sindrome_de_Asperger.pdf