Há algumas semanas escutei uma
conversa interessante. Certa mãe, cujo filho possui várias características
típicas de autismo, afirmou que, embora suspeitasse que ele fosse autista, não
levava seu filho ao médico porque não queria dar-lhe nenhum rótulo.
Muito bem, o autismo é um tipo de
rótulo. Não podemos negar. Algumas vezes, o rótulo limita. Porém, na maioria
delas, ele amplia os horizontes. Abre a mente...
Deixe-me usar um exemplo real:
certo dia, meu filho teve uma crise porque precisou tirar a camisa em público. Esse
ato é bastante desconcertante para ele e aquilo o desestabilizou completamente.
Ele começou a chorar e tentou se esconder, tampando o corpo com as mãos.
Se eu não tivesse o laudo de
autismo, aquela situação poderia se tornar algo extremamente doloroso para
todos os envolvidos: ele continuaria gritando, as pessoas que não o conheciam
ficariam assustadas e eu ficaria nervosa diante da cena. Mas não. Tudo foi
explicado de forma tranquila, Henrique se reorganizou e aquelas pessoas tiveram
o privilégio de aprender um pouco mais sobre o que é o autismo.
A fala daquela mãe mostra, para
mim, uma pessoa ainda aprisionada no terreno do medo. Ela sente que há algo
diferente em seu filho, sofre com isso, mas não vai atrás do laudo específico,
justificando seu medo na ideia de que estaria lhe dando um rótulo eterno.
Mas, como professora de crianças
há mais de dez anos, eu posso dizer com propriedade que o que elas mais fazem é
dar rótulos umas às outras. E os adultos também. Principalmente para pessoas
que se destacam em alguma característica diferente...
Os rótulos da sociedade podem ser
cruéis. O chamado bullying, que aflige os adultos dos dias atuais, tanto pais
como professores. O bullying nada mais é do que rótulos criados baseados em
questões exacerbadas. Alguns exemplos de rótulos que crianças não
diagnosticadas com autismo recebem: esquisitas, mimadas, mal educadas, rudes,
insensíveis... Aí vai.
Estou levantando essas questões
para deixar claro novamente que a busca por um laudo jamais será uma coisa
negativa na vida do seu filho. Por mais que seja assustador, acredite, todo o
medo passa depois de um tempo. Você fica mais forte, mais corajoso, mais
inteligente, mais sensível. Porque, ao descobrir o que afeta o seu filho, você vai
aprendendo diariamente, seja através de estudos particulares ou na troca com
pessoas que tem filhos com a mesma deficiência do seu.
Desde que recebi o laudo do
Henrique, eu mergulhei de cabeça nesse tal espectro e senti liberdade!
Sim! A liberdade de tomar as
atitudes corretas para educar e estimular meu filho, sem me preocupar o que os
outros estão pensando ou não disso. A liberdade de aceitar o meu menino do
jeitinho que ele é, mas sempre buscar meios de trazê-lo mais para perto de nós,
minimizando ao máximo as suas alterações emocionais, sociais e sensoriais.
Hoje sou uma mãe livre. Meu filho
não tem um rótulo. Ele tem um laudo que nos ajuda a compreender esse mundo azul
lindo e cheio de aprendizados.
Não deixe que nenhuma ideia te
impeça de buscar o laudo do seu filho. Essa busca, embora pareça assustadora,
renderá frutos maravilhosos para toda a sua família! Pode acreditar nisso.
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